terça-feira, 3 de agosto de 2010

Diretamente de Paris!

Acabo de voltar de Paris, férias de julho. A cidade estava tão quente quanto o verão carioca, o que fez com meus pés assassem mais durante as intermináveis caminhadas e passeios. Em compensação, a cidade estava linda: florida, alegre, cheio de vida, com os jardins lotados de pessoas até altas horas da noite – aliás, que noite? Se até as 22 horas ainda fazia sol. Enfim, Paris estava uma festa! Além de todos os atrativos desta cidade, que parecem até ser infinitos, porque sempre temos algo pra ver ou conhecer, pude fazer algumas observações curiosas e, claro, comparações com nosso querido Brasil. Como deve ser bom morar em um lugar em que o povo toma água da rede pública sem medo de ser feliz! Pois é, nos restaurantes o que mais se vê são garrafas genéricas com água da rede pública: custo zero para o cliente! E que confiança hein! Sim, porque confiar na rede pública de água e esgoto significa confiar no poder público, afinal é quem trata aquela água. Aqui no Brasil, a gente ainda teme muito pela qualidade da água de torneira. Falta confiança. Também pudera, nosso poder público é privado, ou pra ficar tudo na mesma, privada. E que mau cheiro! Outro lance interessante é que eu e minha esposa pegamos um trem de Paris a Vernon, gastei 56 euros e não apareceu ninguém, durante toda a viagem, para sequer dar uma olhadela de canto de olho e verificar a passagem. Que confiança! Eu, como bom brasileiro, logo pensei: “puxa, dava pra ir e voltar sem pagar nada, afinal ninguém vê porra nenhuma”. Que lástima! Esse jeitinho brasileiro nos corrói por dentro e, quando a gente menos espera, lá estamos nós, tupiniquins, pensando em como burlar o sistema e levar vantagem. Afinal, somos issssperrrtos! Ou achamos que somos. Aqui, a solução seria simples: fiscal na porta do trem pra ver a passagem, fiscal ao longo da viagem e em cada parada para verificar a passagem, fiscal dos fiscais pra ver se estão cumprindo a verificação de forma idônea, fiscal do fiscal dos fiscais para identificar qualquer desvio de conduta na verificação da verificação das passagens, uma ouvidoria pra inglês ver e dar aquela sensação de que temos um anjo da guarda quando tudo der errado, um código de ética - afinal ninguém sabe que diabos é isso - , algumas normas, leis ordinárias, específicas etc. sobre como exercer essa tal fiscalização e versando sobre os direitos e deveres dos passageiros de trens e de todos os trabalhadores do setor e dos empresários também, é claro, e finalmente uma lei constitucional, suprema, magnânima, que descreva como seria o paraíso do serviço de transporte por vias férreas neste país das maravilhas. Viva Paris!!

Bendito Maldito

Outra tarde eu estava folheando o livro que conta a biografia de Plínio Marcos, dramaturgo das antigas, e me sensibilizei com a história. O sujeito, segundo o livro, - porque eu mesmo conheço quase nada de teatro - foi tão especial para a produção artística brasileira, que acabou morto, quase que abandonado na sarjeta, se não fossem as almas de alguns bons cristãos. Peguei o livro pra ler porque me lembrei de uma vez quando, lá no início da década de 90, em frente ao Teatro Cultura Artística – eu tinha uns 12 anos – um homem barbudo, parecendo um mendigo, estava vendendo seus livretos em frente à porta do teatro. Não me lembro mais a qual peça fui assistir. Mas me lembro que estava com meus pais e que me assustei um pouco com aquela figura que se aproximava. Meu pai, um pouco mais conhecedor das artes dramáticas, o reconheceu e logo sussurrou em nossos ouvidos – “É o Plínio Marcos. Grande figura. Tá mal ele...” Meu pai ainda olhou pro figura e deu um sorriso pra ele, meio sem graça, mas querendo dizer que o conhecia e sabia do valor daquela pessoa e de seu trabalho, apesar dos pesares. Eu, ao observar a cena, com meus 12 anos de idade, entendi que o Plínio estava ali daquele jeito, barbudo e maltrapilho, porque simplesmente queria fazer graça com o público da porta do teatro, como se fosse um artista de rua, brincalhão. Engano meu. Quando li as páginas finais da biografia do Plínio – aliás, sempre gosto de ler as páginas finais das biografias, não sei por que, acho que sou meio sádico e gosto de ver como tudo terminou, os últimos momentos e suspiros – descobri que nada daquilo era encenação ou brincadeira. O Plínio estava mesmo numa situação periclitante, na merda, e em total decadência. Morava no Copan. Vendia seus livretos na rua. Parecia um mendigo, ou quase era um. Que tristeza. Alguns podem dizer: “Ah, foi ser artista independente, não se vendeu, fez as escolhas erradas, não ganhou dinheiro, ficou na merda”. Hoje em dia, me parece que as escolhas certas são aquelas que levam o sujeito a ganhar mais dinheiro, sejam quais forem essas escolhas. No entanto, Plínio ainda gozava de prestígio, conforme relata o livro. Quando já estava bem mal, quase morrendo, recebeu apoio do Mário Covas, então governador de São Paulo, e outras figuras ilustres. Daí eu pensei: por que esses amigos tão importantes não fizeram algo antes do Plínio virar um mendigo? Não sei, mas na época, o Covas já estava com câncer. Talvez valha aquela máxima: na merda, somos todos iguais.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

SERVICE UNAVAILABLE

SERVICE UNAVAILABLE. Foi assim que começou o meu dia e de tantos outros brasileiros, especialmente para os paulistas. Quando tanta gente se interessa pela cultura musical brasileira, aparece quem pra atrapalhar? O próprio brasileiro! Minando com todas as possibilidades de se assistir a um belo show comemorativo da Bossa Nova. A receita pra acabar com a chance de um brasileiro comum assistir a um bom espetáculo é simples. Primeiro reserve tantos e tantos ingressos para os chamados VIPs. Aliás, VIPs para quem?? Só se for pra eles próprios e pra família deles e pra outras pessoas que usufruem desta condição de ser ou conhecer um VIP. Afinal, a importância de uma pessoa é relativa. Pra mim VIP é minha noiva por exemplo. Pra outros, VIP é o seu bicho de estimação. Depois, para os pobres mortais, deixam a venda de ingressos para um site de internet que simplesmente não consegue vender os ingressos. Foram muitos acessos, diriam... sim, e isso não era esperado? Dois minishows com Roberto Carlos e Caetano Veloso cantando Tom Jobim, não era esperada lotação máxima? E qual o grau de justiça por trás de um site da internet? Qual a transparência desta forma de venda? O que será que acontece nos bastidores de um site de venda de ingressos? Bom, eu não sei, mas justamente isso é o pior: não saber o que acontece por trás da telinha que só manda esta mensagem: SERVICE UNAVAILABLE. Assistir a um bom show ou a um bom teatro em São Paulo é cada vez mais impossível. Existem várias opções, mas todas estão lotadas, com preços cada vez mais astronômicos, flanelinhas, estacionamentos cobrando preços abusivos... enfim, é a famosa lei da oferta e da demanda: tem gente querendo comprar de qualquer jeito? Opa, beleza! Vamos cobrar R$ 500,00 e colocar a pessoa quase dentro do banheiro e com uma coluna na frente! E ela ainda vai ficar feliz por ter conseguido assistir ao belo espetáculo! Um verdadeiro espetáculo de horrores! Isso quando essa mesma pessoa não encontra outras pessoas iguaizinhas a ela... quer dizer, bem parecidas, a não ser pela diferença mínima de estarem sentadas no melhor lugar, alheias a todo e qualquer tipo de contratempo e... de serem VIPs! E está ficando cada vez mais difícil ir a um show, afinal existe uma horda de VIPs espalhados por aí: são apresentadores de TV, atores, atrizes, autores, escritores, músicos, políticos, socialites, empresários, publicitários, amantes, ex-maridos, ex-esposas, ex-namorados, ex-namoradas, mais as famílias e amigos íntimos de todos eles, cachorro, papagaio e periquito...
Puxa... Ainda bem que este é um país democrático! Imagine se não fosse?!?!

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

"Estudo vê ganho de renda mais sólido e classe média maior" - Folha SP - 06/08/08

A classe média está crescendo no Brasil. Essa é uma notícia aparentemente boa, ainda que isso me preocupe, afinal a revolução pode estar próxima. As revoluções, quando acontecem, são realizadas pela classe média, ou ainda, por pessoas que conseguem questionar o estado das coisas. O aumento da classe média descrito nesta pesquisa, ainda que discutível do ponto de vista metodológico, pode proporcionar às próximas gerações dessas famílias uma melhor educação e maior acesso à informação, criando condições para um provável embate entre as elites tradicionais desse país e a classe média emergente. Mas será que chegaremos a este ponto? Acredito que não, o capitalismo e as elites econômicas são suficientemente inteligentes e astutas, e logo criam os instrumentos que aplacariam maiores lampejos de consciência das classes dominadas. De qualquer forma, isto já é um avanço, sempre é bom criar problemas e desafios pra quem está sentado sobre os louros do poder. Pelo menos eles se mexem um pouco e trabalham pra melhorar o país. Ainda que a passos extremamente lentos, calculados e capazes de manter o status quo.