terça-feira, 3 de agosto de 2010

Bendito Maldito

Outra tarde eu estava folheando o livro que conta a biografia de Plínio Marcos, dramaturgo das antigas, e me sensibilizei com a história. O sujeito, segundo o livro, - porque eu mesmo conheço quase nada de teatro - foi tão especial para a produção artística brasileira, que acabou morto, quase que abandonado na sarjeta, se não fossem as almas de alguns bons cristãos. Peguei o livro pra ler porque me lembrei de uma vez quando, lá no início da década de 90, em frente ao Teatro Cultura Artística – eu tinha uns 12 anos – um homem barbudo, parecendo um mendigo, estava vendendo seus livretos em frente à porta do teatro. Não me lembro mais a qual peça fui assistir. Mas me lembro que estava com meus pais e que me assustei um pouco com aquela figura que se aproximava. Meu pai, um pouco mais conhecedor das artes dramáticas, o reconheceu e logo sussurrou em nossos ouvidos – “É o Plínio Marcos. Grande figura. Tá mal ele...” Meu pai ainda olhou pro figura e deu um sorriso pra ele, meio sem graça, mas querendo dizer que o conhecia e sabia do valor daquela pessoa e de seu trabalho, apesar dos pesares. Eu, ao observar a cena, com meus 12 anos de idade, entendi que o Plínio estava ali daquele jeito, barbudo e maltrapilho, porque simplesmente queria fazer graça com o público da porta do teatro, como se fosse um artista de rua, brincalhão. Engano meu. Quando li as páginas finais da biografia do Plínio – aliás, sempre gosto de ler as páginas finais das biografias, não sei por que, acho que sou meio sádico e gosto de ver como tudo terminou, os últimos momentos e suspiros – descobri que nada daquilo era encenação ou brincadeira. O Plínio estava mesmo numa situação periclitante, na merda, e em total decadência. Morava no Copan. Vendia seus livretos na rua. Parecia um mendigo, ou quase era um. Que tristeza. Alguns podem dizer: “Ah, foi ser artista independente, não se vendeu, fez as escolhas erradas, não ganhou dinheiro, ficou na merda”. Hoje em dia, me parece que as escolhas certas são aquelas que levam o sujeito a ganhar mais dinheiro, sejam quais forem essas escolhas. No entanto, Plínio ainda gozava de prestígio, conforme relata o livro. Quando já estava bem mal, quase morrendo, recebeu apoio do Mário Covas, então governador de São Paulo, e outras figuras ilustres. Daí eu pensei: por que esses amigos tão importantes não fizeram algo antes do Plínio virar um mendigo? Não sei, mas na época, o Covas já estava com câncer. Talvez valha aquela máxima: na merda, somos todos iguais.

Nenhum comentário: